1 de março de 2013

Algumas linhas sobre Karl Heinrich Marx


Marx nasceu em Trèves, na Renânia, região sul da Alemanha, pertencente, então, à Prússia. Sua família era judia, mas convertera-se ao protestantismo. O pai, Heinrich Marx, era um advogado bem-sucedido, fortemente influenciado pelo pensamento liberal francês e que sabia de cor o seu Voltaire e o seu Rousseau. A região onde nascera Marx era limítrofe da França e, naturalmente, recebia influência das idéias da Revolução Francesa.

Marx era um espírito generoso e inquieto. Desde a adolescência preocupava-se com a escolha de uma carreira e dizia que existiam dois critérios para a escolha de uma profissão: o bem da humanidade e a realização pessoal.

Aos 17 anos ingressou na universidade de Bonn para estudar Direito. O estudo do Direito não lhe satisfez. Um ano depois transfere-se para a universidade de Berlim, onde passa a interessar-se também por Filosofia e História. Aos 23 anos consegue seu título de doutor em Filosofia com uma tese sobre Demócrito e Epicuro defendida na universidade de Jena. Em Berlim, é fortemente influenciado pela idéias de Hegel. Marx pretendia um lugar como professor universitário, mas, devido a suas idéias pouco ortodoxas, não consegue satisfazer este desejo. Passa, então, ao jornalismo e, em 1842, já é redator-chefe da Gazeta Renana, jornal de orientação liberal que entrava em freqüentes atritos com a censura prussiana. O jornal foi fechado, e Marx, impossibilitado de trabalhar, vai a Paris. A passagem pela Gazeta Renana, contudo, será de importância decisiva em sua vida. Aí entrara em contato com os problemas de economia, percebera os conflitos sociais gerados por interesses econômicos e tivera que se pronunciar sobre as idéias socialistas que chegavam da França. Como ignorava economia política e socialismo e não era espírito superficial, resolve estudar a fundo estes assuntos. O desejo de conhecer o socialismo e a economia, conjugado com pressões de ordem política, leva-o primeiro a Paris e finalmente a Londres, após breve passagem pela Bélgica. Já se tornou lugar-comum afirmar que a obra de Marx é o ponto de convergência do que havia de mais significativo na filosofia alemã, no socialismo francês e na economia política inglesa. Na realidade, estas três vertentes do saber encontram-se em sua obra que, por isso mesmo, é uma obra globalizante, diferente das obras estritamente técnicas como as que conhecemos hoje, no campo da economia [...]

O pensamento de Marx é, portanto, original não pelos temas abordados (já estudados por várias escolas), mas pela maneira como ele os sintetizou.

Ao deixar a Alemanha, após o fechamento da Gazeta Renana, dirige-se a Paris. Aí entra em contato mais estreito com os movimentos socialistas da época. Mas não permanece muito tempo nesta cidade, pois é expulso da França a pedido do governador prussiano. Passa algum tempo na Bélgica, mas fixa-se definitivamente em Londres onde permanecerá o resto da vida, com pequenas interrupções. A Inglaterra era, então, o laboratório do capitalismo nascente e será para ele um posto de observação privilegiado. Em nenhum outro lugar do mundo ele teria as condições que teve na Inglaterra para entender a mecânica do capitalismo.

Marx teve vida pobre e atribulada. Aos 25 anos casa-se com Jenny von Westphalen, filha de um barão bem situado no governo prussiano. Após o casamento, recebe a oferta de um cargo no governo, a qual recusa. Jenny foi-lhe uma companheira fiel apesar de terem sofrido perseguições, miséria e a perda prematura de vários filhos. Marx passava longas horas no museu britânico, lendo e estudando as ramificações da economia política. Escrevia periodicamente para o New York Tribune e recebia ajuda financeira de seu grande amigo Friedrich Engels. O jornalismo e a ajuda do amigo contribuíram para o seu sustento. Ao terminar sua principal obra O capital, escreve a um amigo numa espécie de desabafo:

“Enquanto fui capaz de trabalhar, usei cada instante de minha vida na busca do acabamento de minha obra, à qual sacrifiquei saúde, felicidade e família. Espero que esta afirmação não provoque comentários. Pouco me importa a sabedoria dos homens que se dizem ‘práticos’. Se quiséssemos ser animais, poderíamos virar as costas aos sofrimentos da humanidade e ocuparmo-nos de nossa própria pele. Mas eu teria deitado tudo a perder, se morresse sem ter terminado, pelo menos, o manuscrito de meu livro.”

Dos três volumes de O capital, só o primeiro foi publicado em vida de Marx. Após sua morte, que se deu em 1883, Engels publica os outros dois volumes. Após a morte de Engels, Karl Kautsky publica outro manuscrito com o título de Teorias da mais-valia. Esta última obra é um dos melhores estudos críticos sobre a história das doutrinas econômicas e revela o vastíssimo conhecimento que Marx adquirira nas suas prolongadas leituras. É uma espécie de quarto volume de O capital.

(ARAÚJO, Carlos Roberto Vieira. História do pensamento econômico: uma abordagem introdutória. São Paulo: Atlas, 1988, p. 49-52)

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