Marx
nasceu em Trèves, na Renânia, região sul da Alemanha, pertencente, então, à
Prússia. Sua família era judia, mas convertera-se ao protestantismo. O pai,
Heinrich Marx, era um advogado bem-sucedido, fortemente influenciado pelo
pensamento liberal francês e que sabia de cor o seu Voltaire e o seu Rousseau.
A região onde nascera Marx era limítrofe da França e, naturalmente, recebia
influência das idéias da Revolução Francesa.
Marx
era um espírito generoso e inquieto. Desde a adolescência preocupava-se com a
escolha de uma carreira e dizia que existiam dois critérios para a escolha de
uma profissão: o bem da humanidade e a realização pessoal.
Aos
17 anos ingressou na universidade de Bonn para estudar Direito. O estudo do
Direito não lhe satisfez. Um ano depois transfere-se para a universidade de
Berlim, onde passa a interessar-se também por Filosofia e História. Aos 23 anos
consegue seu título de doutor em Filosofia com uma tese sobre Demócrito e
Epicuro defendida na universidade de Jena. Em Berlim, é fortemente influenciado
pela idéias de Hegel. Marx pretendia um lugar como professor universitário,
mas, devido a suas idéias pouco ortodoxas, não consegue satisfazer este desejo.
Passa, então, ao jornalismo e, em 1842, já é redator-chefe da Gazeta Renana,
jornal de orientação liberal que entrava em freqüentes atritos com a censura
prussiana. O jornal foi fechado, e Marx, impossibilitado de trabalhar, vai a
Paris. A passagem pela Gazeta Renana, contudo, será de importância decisiva em
sua vida. Aí entrara em contato com os problemas de economia, percebera os
conflitos sociais gerados por interesses econômicos e tivera que se pronunciar
sobre as idéias socialistas que chegavam da França. Como ignorava economia
política e socialismo e não era espírito superficial, resolve estudar a fundo
estes assuntos. O desejo de conhecer o socialismo e a economia, conjugado com
pressões de ordem política, leva-o primeiro a Paris e finalmente a Londres,
após breve passagem pela Bélgica. Já se tornou lugar-comum afirmar que a obra
de Marx é o ponto de convergência do que havia de mais significativo na
filosofia alemã, no socialismo francês e na economia política inglesa. Na
realidade, estas três vertentes do saber encontram-se em sua obra que, por isso
mesmo, é uma obra globalizante, diferente das obras estritamente técnicas como
as que conhecemos hoje, no campo da economia [...]
O
pensamento de Marx é, portanto, original não pelos temas abordados (já
estudados por várias escolas), mas pela maneira como ele os sintetizou.
Ao
deixar a Alemanha, após o fechamento da Gazeta Renana, dirige-se a Paris. Aí
entra em contato mais estreito com os movimentos socialistas da época. Mas não
permanece muito tempo nesta cidade, pois é expulso da França a pedido do
governador prussiano. Passa algum tempo na Bélgica, mas fixa-se definitivamente
em Londres onde permanecerá o resto da vida, com pequenas interrupções. A Inglaterra
era, então, o laboratório do capitalismo nascente e será para ele um posto de
observação privilegiado. Em nenhum outro lugar do mundo ele teria as condições
que teve na Inglaterra para entender a mecânica do capitalismo.
Marx
teve vida pobre e atribulada. Aos 25 anos casa-se com Jenny von Westphalen,
filha de um barão bem situado no governo prussiano. Após o casamento, recebe a
oferta de um cargo no governo, a qual recusa. Jenny foi-lhe uma companheira
fiel apesar de terem sofrido perseguições, miséria e a perda prematura de vários
filhos. Marx passava longas horas no museu britânico, lendo e estudando as
ramificações da economia política. Escrevia periodicamente para o New York Tribune
e recebia ajuda financeira de seu grande amigo Friedrich Engels. O jornalismo e
a ajuda do amigo contribuíram para o seu sustento. Ao terminar sua principal
obra O capital, escreve a um amigo numa espécie de desabafo:
“Enquanto
fui capaz de trabalhar, usei cada instante de minha vida na busca do acabamento
de minha obra, à qual sacrifiquei saúde, felicidade e família. Espero que esta
afirmação não provoque comentários. Pouco me importa a sabedoria dos homens que
se dizem ‘práticos’. Se quiséssemos ser animais, poderíamos virar as costas aos
sofrimentos da humanidade e ocuparmo-nos de nossa própria pele. Mas eu teria
deitado tudo a perder, se morresse sem ter terminado, pelo menos, o manuscrito
de meu livro.”
Dos
três volumes de O capital, só o primeiro foi publicado em vida de Marx. Após
sua morte, que se deu em 1883, Engels publica os outros dois volumes. Após a
morte de Engels, Karl Kautsky publica outro manuscrito com o título de Teorias da mais-valia. Esta última obra é um dos melhores estudos críticos sobre a
história das doutrinas econômicas e revela o vastíssimo conhecimento que Marx
adquirira nas suas prolongadas leituras. É uma espécie de quarto volume de O
capital.
(ARAÚJO, Carlos Roberto Vieira. História do pensamento econômico: uma abordagem introdutória. São Paulo: Atlas, 1988, p. 49-52)
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